Luthier BH

O mito da madeira falante

Olá, aqui quem fala é o Henrique Luthier, luthier de Belo Horizonte.

Que assunto polêmico esse! Falar de madeiras é extremamente difícil e chato!

Digo chato porque cada um tem sua opinião e são raros os estudos realmente definitivos sobre o tema.

Mas aqui vamos tentar excluir os mitos mais frequentes.

Existe madeira ruim? Existe madeira boa?

A resposta é NÃO. As pessoas vivem me pergutando se cedro é bom, pinho é bom, paraju é bom , pau ferro é bom…. Não existe madeira ruim!

O que existe é madeira mal selecionada, mal preparada, mal cortada, e mal aproveitada.

Olha só, existem milhares de espécies, milhares de tipos, vários cortes, várias formas de secagem, várias aplicações e isso é importante existir, pois em um instrumento precisamos de aproveitar várias características, entre elas estão:

Resistência:

Para aplicações por exemplo escala e braço isso é importante, porque madeiras sem muita resistência, podem não aguentar a pressão exercida pelas cordas e a resistência também depende do tipo de corte, então para uma mesma madeira, a resistência pode ser diferente dependendo do corte dela.

Você pode notar que muitos fabricantes e luthiers, utilizam faixas e mesclam madeiras para garantir que um braço por exemplo tenha resistência para aguentar essa pressão sem sofrer muita variação.

Na escala as madeiras duras se destacam pois aguentam ao desgaste provocado pelo musico ao tocar o instrumento.

Trabalhabilidade:

Não adianta ser uma boa madeira, se ninguém consegue serrar, tornear, fresar, lixar, e dar acabamento, e aí as madeiras mais “macias” como cedro, marupá, alder, freijó, mogno se destacam. Pois podemos fresar as cavidades de captadores, fresar formato de corpo, cavidades eletrônicas sem sofrer.

Em madeiras duras, o maquinário acaba sendo forçado, e as madeiras podem: lascar, queimar, trincar e etc, caso sejam muito duras.

Acabamento:

A facilidade de se aplicar um acabamento, tanto como a beleza estética estão em jogo nessa escolha, pois uma madeira visualmente bonita lhe garante um diferencial na estética do instrumento, e assim uma valorização.

Além disso, existem madeiras que são difíceis de se dar acabamento, por serem muito porosas, ou serem difíceis de lixa, ou terem uma cor muito difícil de se trabalhar.

Estabilidade:

É uma característica importante, pois você não vai querer que a madeira torça ou venha a empenar com o tempo. Existem madeiras que são mais estáveis, como mogno por exemplo. Mas a estabilidade, também está muito envolvida com o processo de corte e secagem da peça.

Sendo bem trabalhada desde o corte, o produto final é mais confiável ao se fabricar um instrumento. E veja bem, não adianta em nada ter um jacarandá ou um mogno cortado a 30 anos, se eles não foram processados em pranchas, colocados em estufa, e tem o corte preparado para instrumentos. Madeira boa não é madeira velha.

Peso:

Instrumento pesado ou desequilibrado , ninguém merece e de que adianta ser bonito e vistoso, se ninguém consegue colocar no ombro e tocar, por isso é uma condição importante a ser avaliada.

Veja que em nenhum momento citei a palavra timbre e sustain.

Isso porque o timbre e sustain, não são definidos pela madeira, e sim pelo conjunto do instrumento como um todo.

Madeira não fala, madeira não dá som, madeira não é um alto falante. Madeira é a matéria prima que o instrumento é construído e ponto.

Se você tem a intenção de adquirir ou construir um instrumento, pense no timbre que você está escutando, e não na madeira que foi feito!

Um grande abraço e até mais!

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